Antes mesmo de engravidar já sabia o problema que teria que enfrentar ao me aventurar em utilizar o transporte público de São Paulo como gestante. Inevitavelmente eu estava certa em temer o desrespeito.
Nos primeiros meses desconsiderava pelo fato de poder ser constrangedor arriscar chamar alguém de grávida e acabar errando. Mas agora, aos 5 - quase 6 - meses de gravidez só cego para não notar. Mesmo assim já entro em metrô e ônibus sabendo que terei que me proteger pois não há respeito por ninguém. Não estou nem falando apenas do direito à um assento mas dos empurrões, cotuveladas, mochiladas que acabamos levando gratuitamente.
Poderia, sinto as vezes até vontade, mas não chego a pedir que me cedam o lugar. Mas a cada dia a revolta aumenta, e sinto pena. Sinto pela população que está mergulhando no desrespeito ao próximo, à desconsideração à existência de pessoas em situações mais frágeis, ao não reconhecimento dos interesses dos semelhantes. Fico muito chateada, pois queria muito enchergar esperança na melhora, poder ver que esse país não é perfeito, mas está caminhando para uma mentalidade melhor. Não consigo ver isso.
Para reforçar a minha indignação e a minha falta de esperança, recentemente fiquei sabendo de dois casos que apareceram na mídia: um cadeirante que foi agredido por pedir a vaga de deficiente num estacionamento, e uma briga no metrô por um assento preferencial.
Se o problema fosse analfabestismo seria mais simples de resolver... |
Abaixo, as duas reportagens.
Delegado bate em cadeirante em briga por vaga especial em SP, reportagem de 20/01/11
"Um advogado cadeirante apanhou de um delegado em São José dos Campos (91 km de São Paulo), em briga por estacionamento em vaga pública reservada para pessoas com deficiência. O advogado Anatole Magalhães Macedo Morandini, 35, diz que foi agredido com coronhadas. Já o delegado Damasio Marino, por meio de seu advogado, afirma que não o bateu com arma de fogo, mas que lhe deu "dois tapas". A briga começou quando Morandini flagrou o delegado, que não tem deficiência, estacionado na vaga especial, em frente a um cartório na região central de São José, e foi tomar satisfações. "Ele [delegado] me chamou de aleijado filho da puta. Eu fiquei enojado, e a única coisa que consegui fazer foi cuspir no carro dele, porque me senti desrespeitado."
Ainda segundo Morandini, o delegado do 6º Distrito Policial da cidade, além de lhe dar coronhadas, também bateu em seu rosto com a ponta da arma. Ele mostrou à reportagem uma camiseta com manchas de sangue, que diz ser consequência da agressão. Uma funcionária do cartório também diz que viu Morandini sangrando após a briga. "Ele apontou a arma, fez mira. A única coisa que eu fiz foi virar o rosto devido ao trauma que já tenho", contou o advogado, referindo-se ao tiro que levou durante um assalto, aos 17 anos, e que o deixou paraplégico. Já o defensor do delegado diz que ele é que foi intimidado e que estava parado na vaga especial porque sua mulher está grávida. A corregedoria da Polícia Civil abriu inquérito para apurar a suspeita de lesão corporal dolosa (quando há intenção ou se assume o risco de cometer o crime)".
G1 - Reportagem do dia 20/12/2010
"Usuários do Metrô de São Paulo reclamam da falta de respeito dos passageiros que não cedem lugar a deficientes, idosos e mulheres grávidas. Uma lei federal garante o direito dessas pessoas ao uso do assento preferencial, mas nem sempre isso acontece.
A aposentada Bruna Valente, de 84 anos, afirmou que já passou por situação semelhante. “Pedi para duas moças se elas podiam ceder o lugar para mim, e elas fingiram que não estavam ouvindo”, contou. A idosa insistiu e pediu novamente: “Faz o favor e dá o lugar para mim?” Outros usuários repreenderam as jovens e Bruna finalmente conseguiu sentar-se.
Em algumas ocasiões, a falta de respeito termina em briga. O telespectador Jonatan Santiago registrou imagens pelo celular de uma discussão ocorrida em um trem lotado na Linha 3-Vermelha. Uma jovem que estava em um assento preferencial não quis se levantar para dar lugar a uma idosa. Uma passageira se irritou e começou a discutir.
O bate-boca se transformou em agressão e a mulher tirou a jovem à força do lugar. Após trocarem tapas, as duas foram separadas e uma idosa pôde sentar-se.
Não são apenas as idosas que passam por situações desagradáveis no transporte público. Amanda está grávida e, apesar da barriga inconfundível, nem sempre consegue lugar no Metrô. “É muito complicado. O pessoal empurra. Essa semana levei um empurrão que as pessoas tomaram minhas dores.”
João Batista, que é deficiente físico, prefere ficar em pé, de muletas, na porta do vagão. “É para não ter amolação para ninguém. Se eu for pedir, às vezes as pessoas querem brigar com a gente.”
De acordo com o Metrô, apesar dos relatos, o clima nos vagões é de respeito mútuo. “É rara [a falta de respeito]. O comportamento mais comum é que ajudem um ao outro”, afirmou o chefe de segurança do Metrô, Rubens Menezes.
Ele disse que, em casos como os citados acima, os usuários devem avisar os seguranças que ficam nas plataformas. São eles que têm a autoridade para retirar o usuário que desrespeita a lei. Em caso de insistência, o infrator pode ser retirado do sistema".
2 comentários:
Triste concordo plenamente com Você...O horizonte deste país está cada vez mais longe ao invés de mais próximo...uma pena
Infelizmente esse é o nosso país. Ainda bem que já estamos aqui. É triste dizer isso, mas é a verdade.
E a vida segue...
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