23 de janeiro de 2011

E o Brasil caminha.... para onde?

Antes mesmo de engravidar já sabia o problema que teria que enfrentar ao me aventurar em utilizar o transporte público de São Paulo como gestante. Inevitavelmente eu estava certa em temer o desrespeito.
Nos primeiros meses desconsiderava pelo fato de poder ser constrangedor arriscar chamar alguém de grávida e acabar errando. Mas agora, aos 5 - quase 6 - meses de gravidez só cego para não notar. Mesmo assim já entro em metrô e ônibus sabendo que terei que me proteger pois não há respeito por ninguém. Não estou nem falando apenas do direito à um assento mas dos empurrões, cotuveladas, mochiladas que acabamos levando gratuitamente.

Poderia, sinto as vezes até vontade, mas não chego a pedir que me cedam o lugar. Mas a cada dia a revolta aumenta, e sinto pena. Sinto pela população que está mergulhando no desrespeito ao próximo, à desconsideração à existência de pessoas em situações mais frágeis, ao não reconhecimento dos interesses dos semelhantes. Fico muito chateada, pois queria muito enchergar esperança na melhora, poder ver que esse país não é perfeito, mas está caminhando para uma mentalidade melhor. Não consigo ver isso.

Para reforçar a minha indignação e a minha falta de esperança, recentemente fiquei sabendo de dois casos que apareceram na mídia: um cadeirante que foi agredido por pedir a vaga de deficiente num estacionamento, e uma briga no metrô por um assento preferencial.


Se o problema fosse analfabestismo seria mais simples de resolver...
Abaixo, as duas reportagens.

Delegado bate em cadeirante em briga por vaga especial em SP, reportagem de 20/01/11

"Um advogado cadeirante apanhou de um delegado em São José dos Campos (91 km de São Paulo), em briga por estacionamento em vaga pública reservada para pessoas com deficiência. O advogado Anatole Magalhães Macedo Morandini, 35, diz que foi agredido com coronhadas. Já o delegado Damasio Marino, por meio de seu advogado, afirma que não o bateu com arma de fogo, mas que lhe deu "dois tapas". A briga começou quando Morandini flagrou o delegado, que não tem deficiência, estacionado na vaga especial, em frente a um cartório na região central de São José, e foi tomar satisfações. "Ele [delegado] me chamou de aleijado filho da puta. Eu fiquei enojado, e a única coisa que consegui fazer foi cuspir no carro dele, porque me senti desrespeitado."
Ainda segundo Morandini, o delegado do 6º Distrito Policial da cidade, além de lhe dar coronhadas, também bateu em seu rosto com a ponta da arma.  Ele mostrou à reportagem uma camiseta com manchas de sangue, que diz ser consequência da agressão. Uma funcionária do cartório também diz que viu Morandini sangrando após a briga. "Ele apontou a arma, fez mira. A única coisa que eu fiz foi virar o rosto devido ao trauma que já tenho", contou o advogado, referindo-se ao tiro que levou durante um assalto, aos 17 anos, e que o deixou paraplégico. Já o defensor do delegado diz que ele é que foi intimidado e que estava parado na vaga especial porque sua mulher está grávida. A corregedoria da Polícia Civil abriu inquérito para apurar a suspeita de lesão corporal dolosa (quando há intenção ou se assume o risco de cometer o crime)".

G1 - Reportagem do dia 20/12/2010

"Usuários do Metrô de São Paulo reclamam da falta de respeito dos passageiros que não cedem lugar a deficientes, idosos e mulheres grávidas. Uma lei federal garante o direito dessas pessoas ao uso do assento preferencial, mas nem sempre isso acontece.

A aposentada Bruna Valente, de 84 anos, afirmou que já passou por situação semelhante. “Pedi para duas moças se elas podiam ceder o lugar para mim, e elas fingiram que não estavam ouvindo”, contou. A idosa insistiu e pediu novamente: “Faz o favor e dá o lugar para mim?” Outros usuários repreenderam as jovens e Bruna finalmente conseguiu sentar-se.

Em algumas ocasiões, a falta de respeito termina em briga. O telespectador Jonatan Santiago registrou imagens pelo celular de uma discussão ocorrida em um trem lotado na Linha 3-Vermelha. Uma jovem que estava em um assento preferencial não quis se levantar para dar lugar a uma idosa. Uma passageira se irritou e começou a discutir.

O bate-boca se transformou em agressão e a mulher tirou a jovem à força do lugar. Após trocarem tapas, as duas foram separadas e uma idosa pôde sentar-se.





Grávida e deficiente
Não são apenas as idosas que passam por situações desagradáveis no transporte público. Amanda está grávida e, apesar da barriga inconfundível, nem sempre consegue lugar no Metrô. “É muito complicado. O pessoal empurra. Essa semana levei um empurrão que as pessoas tomaram minhas dores.”

João Batista, que é deficiente físico, prefere ficar em pé, de muletas, na porta do vagão. “É para não ter amolação para ninguém. Se eu for pedir, às vezes as pessoas querem brigar com a gente.”

De acordo com o Metrô, apesar dos relatos, o clima nos vagões é de respeito mútuo. “É rara [a falta de respeito]. O comportamento mais comum é que ajudem um ao outro”, afirmou o chefe de segurança do Metrô, Rubens Menezes.

Ele disse que, em casos como os citados acima, os usuários devem avisar os seguranças que ficam nas plataformas. São eles que têm a autoridade para retirar o usuário que desrespeita a lei. Em caso de insistência, o infrator pode ser retirado do sistema".


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2 comentários:

Julio Cezar disse...

Triste concordo plenamente com Você...O horizonte deste país está cada vez mais longe ao invés de mais próximo...uma pena

César, Valéria, Lara e Anaclara disse...

Infelizmente esse é o nosso país. Ainda bem que já estamos aqui. É triste dizer isso, mas é a verdade.

E a vida segue...